Guerra, a guerra nunca m… Ops! Jogo errado, mas não é possível falar sobre The Outer Worlds sem lembrar da série Fallout. Primeiro, porque o jogo foi desenvolvido pela Obsidian, que hoje pertence à Microsoft. Para quem não está reconhecendo, trata-se da mesma desenvolvedora de New Vegas, um dos mais queridos jogos da série Fallout. Segundo, porque foi um acalento ao coração dos que se sentiram decepcionados com a Bethesda e os rumos que esta deu a sua franquia pós-nuclear.
É preciso esclarecer, no entanto, que não se trata de uma sequência espiritual ou algo do tipo. The Outer Worlds apresenta todo um novo universo para os jogadores. Um universo com elementos de jogabilidade bem reconhecíveis pelos fãs de Fallout, é verdade. Mas The Outer Worlds vai além, e os jogadores nele encontrarão uma lacuna preenchida no que se refere a boas histórias e um mundo rico a espera de ser explorado. Para isso, sai de cena o mundo pós-apocalíptico e entra um mundo distópico e corporativista.
E o melhor de tudo, um mundo para ser explorado sozinho, sem modo multiplayer desnecessário ou qualquer outra invenção (leia-se microtransações) dos últimos tempos.
The Outer Worlds
Um frescor na ficção científica proporcionado pela Obsidian, o jogo se passa em nosso universo, porém em uma linha do tempo alternativa. Nela, megacorporações começam a desafiar o controle dos governos com seu dinheiro e poder quase ilimitados. Na verdade, uma linha do tempo não tão alternativa assim. Bem… então, com o eventual domínio da tecnologia de viagens espaciais, essas corporações logo se espalharam por vários sistemas solares, terraformando planetas e estabelecendo colônias nos mundos exteriores, situados nos mais longínquos cantos do universo.
E em um desses cantos, se encontra o sistema solar de Bonança, com seus hostis e quase desabitados planetas e asteroides. E este sistema possui uma peculiaridade. Ele pertence e é gerenciado por um grupo de megacorporações. O fruto dessa condição é quase uma religião, com slogans, propagandas, comércio e trabalhadores que dão, literalmente, suas vidas pelo bem da colônia de suas companhias. Mas tal qual a política partidária de nosso mundo, a política corporativista de The Outer Worlds é repleta de intrigas e disputas internas, e tal aqui como lá, o bem-estar das pessoas é o que menos importa.
A história
The Outer Worlds se inicia com Phineas Vernon, um cientista renegado e contrário às corporações que dominam Bonança, invadindo a nave colonizadora Esperança. Seu objetivo é salvar alguém de um sono forçado de décadas. Esta nave foi deliberadamente esquecida pelas corporações do sistema, mesmo com centenas de colonizadores mantidos em sono químico no seu interior. Essas pessoas deveriam habitar Bonança e ajudá-la em seu desenvolvimento. Mas ao contrário do que seu nome transmite, Bonança está em grave crise, não conseguindo produzir alimentos suficientes nem aos seus atuais moradores.
Com o personagem principal despertado, a sua missão passa a ser ajudar Vernon a acordar todos os outros colonos da nave Esperança e expor o que ocorre naquele sistema, ao mesmo tempo que busca uma solução para a crise. Obviamente, como um jogo da Obsidian, muitas histórias paralelas podem ser seguidas em The Outer Worlds. Reviravoltas fazem com que Vernon tenha que acentuar a sua fuga das autoridades corporativas, e você, pouco a pouco, começa a conhecer novas pessoas que passam a te auxiliar na aventura. E fique atento, pois entender todo o universo de intrigas entre os diversos grupos do sistema de Bonança dependerá muito dessas interações.
Como todo bom jogo do estilo, seu personagem é um quadro em branco e cabe a você definir todas as suas características. Sejam as físicas, definindo sexo, peso, altura e todos os outros detalhes de seu corpo, até sua personalidade, que é moldada de acordo com as inúmeras escolhas que você faz durante o jogo. Há também a distribuição de pontos de habilidades e aptidões. Cada escolha faz diferença.
Mas são as escolhas feitas ao longo da partida, através de diálogos e em outros diversos pontos chaves, que enriquecem o universo criado para The Outer Worlds. Longe de ser algo maniqueísta de escolha entre um lado bom e um lado mal, as decisões podem (e devem) ser embasadas por nuances e o conhecimento do contexto em que se passam as diversas situações do jogo. Conhecer os dois lados de uma disputa mostra que, muitas vezes, não há certo ou errado, apenas a disputa baseada nos interesses de a ou b. E mesmo que um lado possa ser considerado ruim, nada impede que o sigamos.
Ele é um bom companheiro
Os interesses e desenrolares das intrigas espaciais, aliás, podem vir de muito perto. Apesar de poder ir do início ao fim como um lobo solitário, algo que se destaca em The Outer Worlds são os companheiros que você traz para o seu lado ao longo da história. Essas pessoas, mais do que apenas um nome, são tão complexos quanto o protagonista pode ser. Todos possuem os seus interesses, desejos e aspirações. É difícil não construir um elo com essas personagens.
E essa empatia não se limita às suas personalidades. É possível estreitar os laços entre jogadores e companheiros os ajudando em suas histórias particulares. Elas vão de encontrar amigos desaparecidos, passando por descobrir livros de cunho religioso, até dar conselhos e ajudar na vida amorosa de alguns. No entanto, não há opção de romance entre o jogador e esses companheiros. E lembrando do molde de personalidades, é possível defini-las também através das escolhas dos diálogos com essas pessoas. São momentos em que você pode ir de um ser humano afável até um completo imbecil.
Ao iniciar a exploração de uma localidade, você escolhe até dois (ou nenhum) desses personagens para te acompanhar na jornada. Mas como personagens complexos que são, eles não se resumem a meros coadjuvantes. Em vários momentos eles expressam as suas opiniões sobre o mundo ao seu redor, pedem coisas e muitas vezes interferem nos diálogos com outros personagens. É interessante ver como a amizade entres eles vai se construindo à medida que passam juntos pelas adversidades encontradas em Bonança. A escolha da companhia também pesa nos caminhos que surgem na exploração.
Combates simples
Algo que merece ser citado é que The Outer Worlds é um excelente jogo construído em meio à simplicidade. É um jogo de ação e RPG sem muitas firulas. A narrativa é a protagonista e os comandos e sistemas são simples, entretanto, não simplórios. Os combates são fáceis de serem dominados. As diversas armas podem ser modernizadas de acordo com os objetos e materiais recolhidos ao longo de suas andanças pelos diversos planetas de Bonança. Há armas brancas e de fogo e seus pontos de habilidades podem ser alocados diretamente a um tipo de armamento específico, de acordo com os desejos ou habilidades do jogador.
O grande diferencial das mecânicas de The Outer Worlds é a capacidade de dispersão temporal do protagonista, que a adquire devido ao grande período em que esteve em sono químico. Neste período, a sua percepção de continuidade do tempo foi afetada. Esta habilidade consiste na redução da velocidade do tempo, dando ao jogador a possibilidade de estratégias diferentes durante o combate, acertando tiros em cheio e incapacitando inimigos de forma imediata. Com o desenrolar do jogo, você pode também aperfeiçoar essa habilidade, tornando-a ainda mais efetiva durante os combates (eu sei que você se lembrou do V.A.T.S. de Fallout).
Pode melhorar
Explorar os planetas de Bonança pode não ser tão fácil devido aos mapas das localidades. Eles não são intuitivos, um pouco confusos até. Não é fácil localizar caminhos ou as entradas e passagens de certos locais. E não parece ter sido uma decisão de design pensada para desorientar o jogador. Nem o acesso a eles é fácil, pois ficam dentro de um menu, nunca à primeira mão. Em certos momentos ele demora um pouquinho a ser carregado, o que se não chega a ser frustrante, não é o ideal.
A exploração do códice do jogador, que explica os detalhes de tudo o que você precisa e quer saber do jogo, também não é muito fácil. À medida que você explora as possibilidades do jogo e descobre algo novo, um alerta visual informa que há novas entradas nesse códice. Encontrar essas novas informações, entretanto, é um processo difícil. Divididos em um menu multinível, você deve expandir cada uma das categorias principais até encontrar a nova entrada.
Outro ponto negativo, que The Outer Worlds compartilha com diversos jogos dessa geração, é o tamanho dos textos exibidos em tela. Quando foi que eles ficaram tão pequenos? Será que é realmente necessário comprar uma televisão gigante para conseguir ler com conforto o que é apresentado?
Uma maior variedade da fauna e flora dos planetas e dos inimigos humanos também seria bem-vinda em uma expansão ou continuação do jogo.
The Outer Worlds
Desenvolvimento: Obsidian
Publicação: Private Division
Jogado no PC via Steam
steampowered.com/app/578650/
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