Devwill Too ZX | Uma jornada em busca de respostas

Desde os fortuitos instantes em que os primórdios de pensamentos se desenvolviam em seu íntimo, uma inquietude o incomodava. A escuridão que o envolvia contrastava com os tons surgidos em suas dúvidas. Quanto passou assim, não se sabe. Em dado momento, entretanto, percebeu que a parede do casulo que o limitava estava cada vez mais próxima. Embora desconhecesse como verbalizar seu âmago, pressentia que o fim espreitava.

Quando a primeira intenção de luz transformou a escuridão em penumbra, sentiu um misto de sensações. Medo e maravilha lhe invadiram. Mas não houve tempo suficiente para pensar em tentar entender. Foi violento e trágico. Angustiante e belo. Numa fração de um tempo que não entendia, a parede que o encarcerava era apenas fragmentos de um passado próximo e distante. Emancipador.

Livre, entendeu a serventia de seus membros. Caminhou em direção ao que era.

As buscas, entretanto, nem sempre trazem resultados imediatos.

Controles competentes

Venho, recentemente, passeando por jogos das décadas de oitenta e noventa. Revisitando clássicos e outros não tão clássicos que não pude jogar na época. Uma das características que marcam muitos desses jogos, sobretudo os do gênero plataforma, são os controles não muito refinados. Em alguns casos, quebrados. Confesso que com Devwill Too ZX, eu não possuía plena confiança de que essas questões não se repetiriam. Receio alimentado também pela minha completa falta de experiência com o ZX Spectrum.

Cachoeira refrescante

Então, com o jogo adquirido e o emulador configurado, começo a aventura. Os controles são suaves e respondem de forma precisa aos comandos. Homunculus, a criatura recém-chegada a um mundo desconhecido, pula e desliza de maneira tão satisfatória pelos cenários que você esquece que está jogando uma obra pensada para um hardware de meados dos anos oitenta (o jogo foi desenvolvido e lançado em 2020). O desafio opcional de conseguir combos eliminando inimigos em sequência é uma tarefa estimulada pelos controles responsivos.

A jornada de fato inicia

Passada a estranheza e vencido os temores iniciais, o mundo se tornou a sua casa. Longe das amarras de seu desenvolvimento, percebeu que as paredes de seu novo casulo eram invisíveis, embora facilmente alcançáveis. A proteção de outrora jazia em meio ao pó primordial. Buscou sua imagem, turva, em meio à natureza a sua volta. Tocou o próprio rosto, incrédulo. Descobriu sua própria forma. Perseguiria agora seu propósito.

Logo, descobriu não estar só. Não entendeu, inicialmente, a natureza daqueles seres. Ao longe, percebeu que apenas a observação não seria suficiente para descobrir a realidade.

Embora não entendesse o conceito de coragem, quando se deu conta, estava envolvido na caminhada em direção ao desconhecido. Tudo para perceber que, embora acompanhado, estava só. Não eram amigos. Não tinham a aparência que viu ao olhar a poça momentos antes. Para manter sua caminhada, entendeu que teria de usar a força.

Bonito mundo desconhecido

Os cenários percorridos por Homunculus são bonitos. As cores são fortes e vibrantes. Os contrastes entre os elementos que compõem cada cenário e o personagem agradam ao olhar. O jogo te leva a uma viagem entre diferentes climas e localidades. É realmente impressionante o que se pode obter das limitações do meio.

Noite de Lua

Não há dificuldade nesses simples e detalhados cenários. As entradas e saídas de cada um deles são perceptíveis ao primeiro olhar. Mas não basta entrar, enfrentar os inimigos e seguir para o próximo desafio. Há pontos inalcançáveis para Homunculus inicialmente. Caberá ao jogador buscar os conhecimentos e elementos necessários para superar os desafios desses ambientes. As recompensas pela determinação de Homunculus vêm em forma das habilidades de executar uma rasteira e o pulo duplo. O pacote clássico dos jogos de plataforma se completa. Com essas habilidades, Homunculus alcançará os lugares inacessíveis inicialmente e seguirá adiante em sua jornada de conhecimento.

Essas mecânicas e elementos dão ares de metroidvania a Devwill Too ZX. Voltar aos lugares necessários para prosseguir a aventura não é difícil, mas requer um pouco da atenção do jogador. Às vezes, os cenários podem se assemelhar, mas é facilmente perceptível quando o mundo se abre para localidades diferentes. Algumas vidas adicionais para Homunculus também estão espalhadas pelo mundo. E são as habilidades extras que permitem alcançá-las. Talvez elas sejam necessárias para o desafio final, a depender de sua habilidade.

Experiência acumulada

Diferentes chãos, abismos e vegetações. Criaturas cada vez mais inexplicáveis. Não logrou sucesso em nenhuma tentativa de aproximação amistosa. Quanto mais adentrava naquele mundo, mais se sentia longe do final da jornada. Prosseguiu, como predestinado a essa missão. Foi quando chegou ao que parecia ser um porto seguro. Não sem antes enfrentar seu maior desafio.

Às vezes, porém, a resposta para uma pergunta pode ser uma nova pergunta.

Só restava seguir adiante.

Considerações

Devwill Too ZX foi uma grata surpresa. Além de me apresentar a uma plataforma desconhecida, me ajudou a renovar as energias com os jogos depois de algumas decepções com a mídia. Bonito, detalhado e com jogabilidade e controles afinados, é uma obra que merece romper o nicho retrogamer/indie.

Devwill Too ZX
Desenvolvimento: Amaweks
Publicação: Autopublicado
Jogado no PC via itchio
 amaweks.itch.io/devwill-too-zx
Idioma português:

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