Não posso dizer que Various Daylife foi uma compra de impulso. O jogo passou algum tempo em minha lista de desejos do Steam aguardando uma boa promoção na lojinha. Se não foi no impulso, também não foi uma compra bem planejada. Meu conhecimento sobre o jogo era limitado a sua descrição, imagens e vídeos do Steam e nada mais. Para ser justo, há também a média geral de análises, ligeiramente negativas, e as duas únicas análises em português de então, também negativas. Mas como esses quesitos não são os determinantes para minhas compras de joguinhos, me permiti comprar Various Daylife apenas com essas informações do marketing da Square Enix.
Tendo isso como base, imaginei Various Daylife algo diferente d a realidade. Uma mistura de Stardew Valley com elementos de SimCity e toques de Eiyuden Chronicle Rising. Quase uma quimera gamística. Afinal, assumimos o papel de um colono recém-chegado a um continente pouco desbravado, nos cabendo auxiliar no desenvolvimento da nova sociedade que se estabeleceu por ali. Parecia a receita certa para um RPG com muitas horas de diversão. Com essa introdução, no entanto, você já percebeu que não foi bem o que eu encontrei. O que não significa que eu não gostei do jogo. Explico adiante.
Um jogo para… celulares?
Creio que a primeira coisa a se dizer sobre Various Daylife é que ele foi desenvolvido para celulares. Por muito tempo, o título foi um exclusivo do Apple Arcade, serviço de jogos por assinatura dos dispositivos da Apple. Ao desembarcar nos videogames e PC, alguns anos depois, foi portado sem quaisquer alterações aparentes. Este foi o primeiro impacto em minha experiência com o jogo, que se iniciou de uma maneira bem diferente do que eu havia imaginado. É certo que essa é uma informação que eu poderia ter obtido facilmente numa breve pesquisa, mas como comprei o jogo quase às cegas, tive que lidar com isso.
Sendo assim, um jogo pensando para os celulares, Various Daylife segue a lógica de gameplay para esse tipo de dispositivo. Bastam alguns minutos para perceber que o PC não é plataforma ideal para jogá-lo, embora não crie empecilhos intransponíveis para aqueles que o façam. O jogador não tem o controle direto do personagem em nenhum momento importante. Todas as ações são realizadas automaticamente através de escolhas em menus. Damos as ordens e aguardamos o desfecho do que foi solicitado, cujo resultado vem na maioria das vezes descrito em uma caixa de diálogo, sem vermos as coisas de fato se desenrolando. Uma típica aventura a que estamos acostumados em jogos para celulares.
Em linhas gerais, formamos um grupo entre as pessoas que conhecemos na cidade, que é o hub central do jogo, e partimos em explorações de descoberta pelo novo continente. As explorações possuem alguns objetivos pré-definidos que envolvem a caminhada por terras ainda não desbravadas. Nesses momentos, vemos o grupo caminhando, sem controlá-los, enquanto um contador mostra a porcentagem percorrida até o momento da chegada ao destino, local em que normalmente um chefão aguarda. Ao longo do caminho, enfrentamos os inimigos comuns e coletamos itens, alguns deles que podem se relacionar à missão ativa. Ao jogador, cabe gerenciar o grupo, abastecendo-os com provisões antes da jornada e definindo os momentos de descanso. Algumas caminhadas são longas e requerem uma boa combinação das pessoas com as habilidades corretas para o terreno explorado e as provisões de comida e magia para recuperar vida e mana, que decrescem durante o caminho. As batalhas são em turnos, adequando-se às demais características do jogo. Se os personagens são derrotados durante a exploração ou ficam cansados demais para continuar, a missão falha e todos retornam para a cidade.
Muitos menus, pouca ação
Já na cidade, é possível liberar alguns trabalhos, que são importantes, pois determinam a evolução do seu personagem de acordo com as escolhas feitas. Diferentes trabalhos são liberados à medida que a história se desenrola, e alguns possuem um tempo limite de dias para serem concluídos, já que estão atrelados a eventos sazonais específicos, como festivais ou aniversários dos seus amigos. Com ainda menos a ser feito do que nas explorações, os trabalhos se resumem a escolhas de menus. Selecione um trabalho disponível e veja as chances de falha em sua execução, que são baseadas no vigor e no humor de seu personagem. Estes, por sua vez, se relacionam ao seu descanso e habilidade social. Selecionado o trabalho, apenas aguarde alguns segundos. O personagem sai da tela, volta e uma mensagem é exibida, informando seu sucesso ou não, o dinheiro obtido e, no caso de uma tarefa que demanda mais de uma sessão, o quanto dela já foi concluída.
Os trabalhos são o principal meio de aumento de nível, pois a experiência ganha nas expedições é mínima. O dinheiro obtido nesses trabalhos também é crucial, pois a evolução dos seus companheiros depende da compra de dias de treinamento, que são bem caros. Além disso, o relacionamento entre os personagens também depende de dinheiro, que é utilizado realizando atividades na cidade, como uma ida à taverna ou um passeio pela praça. É também, claro, o meio de adquirir itens como comida, poções, armas e armaduras. E lembre-se, tudo isso em decisões de gerenciamento através de menus.
Jogável no PC, melhor no dispositivo móvel
Percebe-se que é um jogo que faz muito sentido em celulares. É comum nesse tipo de dispositivo jogos em que você dispensa alguns minutos diários para avançar seu personagem e a história ao longo de várias semanas ou meses. No PC essa lógica fica estranha, já que o tempo gasto em uma sessão normal de jogatina costuma ser maior, tornando as coisas repetitivas. Talvez no Steam Deck ou no Switch, realizando algumas tarefas entre jogatinas ou em deslocamento, Various Daylife faça mais sentido.
Claro, tudo isso pode ser relevado, desde que você realmente esteja disposto a jogar Various Daylife no PC. Mas se ao final de todas essas considerações, as características do jogo não te incomodam, há algo que certamente não dá para relevar: o preço. Various Daylife não chega perto de valer os 129 reais que a Square Enix cobra por ele. É absurdamente caro. É o port de um jogo de celular. A Square Enix é conhecida por seus jogos caríssimos para celulares, mas não há desculpa. Não compre por esse preço. Espere uma ótima promoção caso queira se arriscar. Eu gostaria de não ter despendido os R$ 85,73 que paguei por ele. Mas, veja bem, eu me joguei na granada ativada para salvar você.
Se você leu até aqui, depois de tudo o que falei, talvez você pense que eu não recomendarei o jogo. A verdade é que eu recomendo sim. É certo que eu me decepcionei, mas eu cheguei a Various Daylife com a expectativa muito desregulada, baseada em achismos e não na realidade. O jogo é bonito, tem uma música agradável, os personagens são carismáticos e a historinha é boba, mas embala a curiosidade. Eu persisti, gostei e passei várias horas realizando tarefas em menus. Ao menos, ao contrário de mim, você pode ter uma mínima ideia do que te aguarda no novo continente de Antoécia. Eu recomendo o jogo sim, mas vá por sua conta e risco (e não pague o preço cheio jamais).
Various Daylife
Desenvolvimento: Square Enix, DokiDoki Groove Works
Publicação: Square Enix
Jogado no PC via Steam
steampowered.com/app/1897050/
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